A agência Five Eyes, formada por uma aliança de especialistas da Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos, tem uma alta capacidade de acessar comunicações via webcam. O serviço de inteligência do Reino Unido GCHQ, com ajuda da agência de segurança norte-americana NSA, teria capturado imagens de milhões de usuários do Yahoo em sessões de chat com vídeo nos últimos anos. Cerca de 7% deles continham “nudez indesejada”.

Na última quinta-feira (20), com base em documentos divulgados pelo dissidente Edward Snowden, o jornal britânico The Guardian publicou detalhes de um programa chamado Optic Nerve, que começou em 2008 e continuou ao menos até 2012 para usar tecnologias de reconhecimento facial na identificação de pessoas de interesse das agências.

O Optic Nerve teria, então, coletado informações da rede cabeada de internet da GCHQ e dos dados roteados para a busca XKeyscore, da NSA. Em vez de coletar streaming de vídeo, o programa teria capturado imagens fixas a cada cinco minutos.

De acordo com o relatório, a GCHQ somou 1,8 milhão de imagens de usuários do Yahoo num período de seis meses em2008. Muitas dessas imagens seriam de sexo explícito – 7,1%, com margem de erro de 3,7%.

“Infelizmente, há problemas com imagens indesejáveis dentro dos dados”, um dos documentos divulgados pelo The Guardian diz. “Apareceram um número surpreendente de pessoas que usam conversas na webcom para mostrar partes íntimas de seus corpos a outra pessoa. Também, o fato de o software do Yahoo permitir mais de uma pessoa assistindo um streaming de vídeo sem necessariamente enviar um sinal recíproco, faz da plataforma um meio de disseminar pornografia”.

Em vez de tomar atitudes para evitar a captura dessas imagens, a GCHQ teria trabalhado apenas para excluir essas fotos quando o software não encontra rostos nas fotos. Segundo o jornal britânico, contudo, o sistema de detecção de imagens explícitas gera muitos falsos positivos ao identificar como pornografia o foto de alguns rostos.

Além disso, políticas como essa podem não ser sustentáveis agora que a versão da agência à nudez se tornou pública. A refusa contínua de considerar que explícitas algumas imagens poderia criar um canal de comunicação secreto.

A GCHQ se recusou a comentar o fato ao The Guardian e insistiu que as atividades de Snowden são ilegais.

Em um comunicado enviado por e-mail, o Yahoo afirmou que a empresa não tinha conhecimento do programa britânico e o desaprova, se ele realmente existe. “Esse relatório, se verdadeiro, representa um outro nível de violação da privacidade de nossos usuários, que é completamente inaceitável e nós chamamos os governos de todo o mundo a reformar a lei de vigilância com princípios que divulgamos em dezembro”, afirma. O Yahoo ainda pontua que a companhia pretende expandir a criptografia em todos seus serviços.

“Isso é apenas mais uma evidência de que os programas de vigilância da NSA são errados e precisam reforma séria e imediada”, comenta um funcionário da procuradora da Electronic Frontier Foundation, em entrevista pelo telefone.

Rumold diz que isso não é necessariamente uma surpresa uma vez que a coleção de informações online praticada pela NSA e a GCHQ pode conter comunicações em vídeo. “Mas isso colocaria um aspecto emocional, um pouco mais visceral, porque muitas pessoas se comunicam via vídeo na internet”.

O presidente da Associação das Indústrias de Computação e Comunicações dos Estados Unidos, Ed Black, também condenou o programa. “A captura e o armazenamento secretos das imagens tiradas em milhões de chats de vídeo indica que a violação de privacidade feita pelo governo alcançou um nível alarmante”, diz ele em comunicado. “O tamanho e a audácia da espionagem virtual é ofensiva e mostra como o monitoramento oficial dos governos irá tão longe quanto a capacidade de coletar dados com a mínima preocupação por privacidade”.

Nesse ano, em resposta a meses de denúncias sobre a ação da NSA, o presidente americano Barack Obama determinou cinco mudanças na política de monitoramento dos Estados Unidos. A mais substancial foi um compromisso a substituir a coleção de metadados da agência com algo menos completo.